Ainda é cedo para dizer se vai mudar completamente a imagem que as pessoas fazem da Volkswagen, mas o ID.3 já é, hoje, um automóvel que oferece ao condutor a tecnologia do futuro e uma nova forma de viajar, tirando partido de uma nova filosofia que dá mais ênfase ao conforto para quem não está ocupado
Imaginemos como se sentia um condutor de um Volkswagen em 1974, que tenciona substituir o seu velho Carocha por um modelo novo da marca de Wolfsburg... E aparece-lhe à frente o Golf, um automóvel completamente diferente daquilo a que está habituado, com o motor a passar para a frente, uma bagageira com um portão traseiro que abre completamente e um motor a que agora tem que mudar a água do radiador. Será um verdadeiro Volkswagen?... Chegamos agora a 2021, e o cliente habitual do Golf poderá sentir o mesmo com o ID.3...
Visualmente, o ID.3 não será tão revolucionário em relação ao Golf como este era em relação ao Carocha, mas já é visível que, apesar de terem dimensões externas equivalentes, as semelhanças param por aí. A adoção da plataforma MEB, concebida especificamente para ser usada em carros elétricos, abriu novas possibilidades para mudar a forma como se pensa um veículo familiar tradicional. A grande vantagem é que o ID.3 tem uma habitabilidade traseira sem rival no segmento dos modelos familiares: sem um tradicional motor a gasolina, mesmo com um comprimento de quase 4,2 metros comparável ao do Golf, sobra muito mais espaço que o habitual, que é aproveitado para ampliar o espaço para as pernas dos bancos traseiros, de um modo que raramente é visto neste segmento, mesmo em carrinhas e monovolumes. A iluminação ambiente também ajuda a fortalecer a sensação de conforto, dando a impressão de mais espaço. A bagageira de 385 litros não parece só grande no papel, é bastante prática, até porque permite guardar o cabo do carregador por baixo da base do separador.
Nesta fase de lançamento, o Volkswagen ID.3 1st está disponível com a variante mais potente do motor elétrico, de 150 kW de potência, equivalente a 204 cv.
Quanto ao condutor, vai ter que passar por um pequeno período de habituação. O posto de condução é familiar nalgumas áreas, mas nos primeiros dias terá sempre que se lembrar que o controlo das mudanças não está no lugar habitual, mas sim atrás do volante, onde pode rodar um manípulo para selecionar o travão de mão eletrónico ou a marcha-atrás. O painel de instrumentos digital é bem mais simples do que o Grupo Volkswagen tem vindo a implementar nos seus modelos com motor de combustão, e informa o condutor apenas do estritamente necessário relativo à condução, segurança e estado da bateria. Na variante de topo, a ID.3 1st Max, também pode visualizar esses dados projetados no pára-brisas, graças ao “head up display”.
Para aceder a dados mais detalhados existe o ecrã tátil de 10 polegadas, colocado no topo da consola central. Ocasionalmente, fazia-se necessário um posicionamento rebaixado do comando, para descansar o braço, mas a VW preferiu dotar a consola central de mais espaço para arrumação de objetos, até porque também é preciso espaço para o carregador de telemóvel por indução, sem fios, uma opção oferecida apenas na variante de topo do VW elétrico. Aliás, espaço para arrumar objetos específicos é coisa que não falta, espalhados um pouco por todo o habitáculo.
O Volkswagen ID.3 1st chegou ao mercado nacional em três variantes: base, Plus e Max, sendo que esta última distingue-se pelo reforço do equipamento ao nível do conforto e da decoração. A diferença de preço da Max para a versão base é superior a 10 mil euros e para a versão intermédia é de mais de 5000 euros, pelo que o potencial comprador vai ter que avaliar se vale mesmo a pena apostar no equipamento reforçado. Originalmente lançado abaixo dos 50 mil euros, o ID.3 1st Max já passa desta barreira psicológica.
Conforto ágil
Nesta fase inicial de lançamento, o Volkswagen ID.3 1st só está disponível com a variante mais potente do motor elétrico, de 150 kW de potência, equivalente a 204 cv. É suficiente para dar uma resposta rápida quando é necessário, mas normalmente o condutor vai estar mais preocupado com a gestão da bateria. O sistema permite-lhe alternar entre os modos Eco e Comfort, para ter acesso a uma resposta mais rápida quando é necessária, mas geralmente pode circular em modo Eco e tirar o melhor partido da energia. O ID.3 tem potencial para ser bastante eficiente, podendo atingir consumos médios abaixo dos 13 kWh por cada 100 quilómetros, se circular a velocidades médias em zonas com pouca inclinação. Mas mesmo noutras circunstâncias é possível obter um consumo energético baixo. E para isso vai beneficiar da boa capacidade de recuperação de energia de travagem, muito eficaz em qualquer tipo de situação de trânsito. Aliás, na maior parte dos casos, nem vai precisar de usar o pedal do travão para reduzir a velocidade: a recuperação de energia já serve para parar o carro de forma segura em quase todas as condições de circulação. Num carregador público, pode obter carga para fazer quase 300 quilómetros em apenas meia hora, mas na maior parte dos casos, ao recarregar em casa, necessita de pouco mais de seis horas para uma carga total.
O ID.3 revelou ser um carro surpreendentemente ágil em cidade, apesar da sua longa distância entre eixos, mas tirando bom partido da passagem para tração traseira, algo que tinha deixado de ser normal em veículos neste segmento. Com as baterias a rebaixarem o centro de gravidade, o novo carro elétrico da VW também tem um comportamento bem agradável em estrada, sendo mais interessante de explorar nos limites do que era o e-Golf. A opção por uma suspensão traseira multibraços oferece um bom compromisso entre comportamento dinâmico e conforto, pelo que, mesmo que o condutor queira “esticar-se” durante alguns momentos, os ocupantes dos bancos traseiros raramente irão sentir irregularidades na estrada ou o veículo a adornar nas curvas. Mesmo em termos de segurança, também se destaca pelo adoção, nesta versão Max, de vários sistemas de assistência à condução (incluindo assistência de manutenção de faixa), que simplificam a vida ao volante numa condução diária. O condutor até se vai esquecer que eles estão lá, e tirar partido deles de uma forma orgânica.
Paulo Manuel Costa (texto)
FICHA TÉCNICA
Motor elétrico tipo síncrono
Bateria iões de lítio, 58 kWh
Potência 50 kW (204 cv)
Binário 310 Nm
Tração traseira, caixa de relação única
Suspensão McPherson à frente, multibraços atrás
Comprimento 4261 mm
Largura 1809 mm
Altura 1568 mm
Bagageira 385 litros
Peso 1794 kg
Consumo 13,4 kWh/100 km (testado)
Autonomia 420 km (ciclo WLTP)
Acel. 0-100 km/h 7,3 segundos
Emissões CO2 –
Carregamento 6h15 (11 kW)
Preço
Gama ID.3 desde 38.017€