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“O combate às emissões e a gestão otimizada dos espaços urbanos irão condicionar a forma como nos mo

Especialista no setor automóvel, colaborador ativo em projetos de pesquisa e desenvolvimento, formador e orador em conferências e congressos da especialidade, além de blogger profissional, Ricardo Oliveira é um verdadeiro “homem dos sete ofícios”: fundador da ‘World Shopper’ (www.world-shopper.com), estrutura concebida para a pesquisa, partilha e oferta de soluções de inovação no negócio automóvel; responsável do estudo ‘2025 Automotive 360º Vision’, uma ferramenta para ajudar profissionais do setor automóvel e investidores a compreenderem a disrupção e a identificarem oportunidades no novo mundo da mobilidade; e CEO da Jotoliveira, empresa de consultadoria e serviços para o setor automóvel.

Fundador e mentor da World Shopper, responsável pelo estudo 2025 Automotive 360° Vision, CEO da Jotoliveira... Quer explicar aos nossos leitores em que consiste a sua atividade profissional? Há 26 anos fundei a Jotoliveira, Lda., empresa especializada na análise da experiência do Cliente no setor automóvel. Em 2009 lancei a World Shopper e hoje, para além de CEO, sou responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento, nomeadamente pelo estudo 2025 Automotive 360º Vision. Basicamente estudo o futuro do setor automóvel e da mobilidade, transfiro conclusões para dentro e para fora da organização e, acima de tudo, estou rodeado de uma equipa fantástica de profissionais de vários países.

Afirmou recentemente que os profissionais do setor automóvel deveriam preparar-se para o caminho da eletrificação. Isso quer dizer que ainda não estão preparados? E de que modo devem eles preparar-se? A maior parte dos construtores, fornecedores e retalhistas da indústria estão formatados para produzir e comercializar veículos de combustão e, alguns deles, estão a fazê-lo há cem anos. A mudança é muito maior do que retirar os motores de combustão e os depósitos de combustível dos veículos e substituí-los por propulsores elétricos e baterias. Construir, vender, manter e reparar um Veículo Elétrico (VE) é diferente. O primeiro passo dessa preparação para o caminho da eletrificação é compreender a inevitabilidade desta tendência. O segundo é ter “sede de conhecimento”…

Outra afirmação sua recente: não são os consumidores que não querem comprar veículos elétricos a bateria (BEVs), mas sim a indústria que não está preparada para os vender... Quer explicar melhor? Apesar de ainda não existir paridade entre os preços de veículos de combustão e elétricos, os consumidores estão muito recetivos à economia, reduzido impacto ambiental, prazer e facilidade de condução de um VE. O problema é que quando se “viram” para a indústria, esta ainda propõe uma gama reduzida de opções 100% elétricas e, acima de tudo, não facilita o acesso às mesmas: os níveis de produção de VEs são inferiores à procura e o retalho prefere vender veículos a combustão interna.

Como comenta a evolução do mercado automóvel em termos de vendas, considerando o decréscimo na venda de modelos a diesel, os dados de venda dos carros a gasolina e o crescimento, mesmo que globalmente ainda pouco representativo, dos veículos a propulsão elétrica ou híbrida? A quebra de vendas de veículos a diesel nos segmentos inferiores do mercado teve início com o chamado “Dieselgate” e depois foi amplificada pela maior atenção proporcionada às emissões de óxido de nitrogénio (NOx), por parte das administrações das zonas urbanas. A transição está a dar-se do diesel para a gasolina, porque as opções elétricas e híbridas ainda são poucas e porque os seus preços ainda são pouco competitivos nos segmentos inferiores. Em 2025 é previsível que os preços se venham a equiparar, mesmo sem incentivos para VEs. Até lá e com uma oferta em pleno desenvolvimento, é provável que, nas zonas urbanas, a transição se dê cada vez mais para os veículos eletrificados.

É uma das grandes questões da atualidade... Os motores diesel têm futuro, sim ou não? E porquê? A via financeiramente mais exequível para reduzir as emissões é a da eletrificação. Ainda que o fenómeno seja tendencialmente global, haverá regiões do planeta que a irão adotar a diferentes velocidades. Também existem segmentos do mercado e tipos de veículos mais ou menos prontos para a eletrificação. Nas cidades e nos segmentos inferiores do mercado, o diesel não se posiciona como uma “solução de futuro” devido à pressão das administrações e à crescente complexidade das soluções de despoluição destes motores, com naturais repercussões no custo e na fiabilidade dos veículos.

“O primeiro passo a preparação para o caminho da eletrificação é compreender inevitabilidade desta tendência”

Globalmente, quais serão as grandes tendências do futuro (próximos anos) em termos de mobilidade? Em 2050 dois terços da população mundial viverá em cidades e será nestas áreas que iremos assistir às maiores transformações em termos de mobilidade. O combate às emissões e a gestão otimizada dos espaços urbanos irão condicionar a forma como nos movemos. A compra em propriedade perderá relevância em detrimento de soluções de mobilidade partilhada ou daquilo que, nós na World Shopper, designamos por “mobilidade individual” (utilização prolongada de um veículo sem propriedade).

A propósito de futuro, é um reconhecido especialista na pesquisa de ideias criativas no negócio automóvel. O que irá mudar no que respeita à maneira como os consumidores compram um automóvel? E o que deveria mudar na maneira como se vendem automóveis? Como referi anteriormente, vamos ser cada vez mais utilizadores de veículos e menos proprietários dos mesmos. O fenómeno não é novo, visto que a proliferação de financiamento à utilização já acontece no mercado há alguns anos. O que iremos assistir é a variações cada vez mais personalizadas destas soluções de financiamento à utilização, permitindo, por exemplo, estrear carros novos e trocá-los à medida das necessidades de mobilidade a cada momento. Na venda de automóveis temos um cenário semelhante: mais do que vender automóveis, iremos passar a vender “minutos” de mobilidade.

Recorre à sua experiência para ajudar a indústria automóvel a antever o futuro e a compreender e relacionar-se melhor com o consumidor. Numa altura em que começamos a assistir a uma mudança radical no paradigma da mobilidade automóvel, como acha que a indústria poderia/deveria conseguir isso? A solução de distribuição automóvel que está em vigor tem um século de existência. Teve o enorme mérito de fazer chegar o automóvel às massas, mas foi desenhada para vender automóveis e não para vender mobilidade. O conceito de propriedade irá continuar a existir, especialmente em determinadas regiões e para modelos específicos. No entanto, a distribuição automóvel precisa de ser redesenhada para responder eficazmente à prevalência das soluções de mobilidade em zonas urbanas. Atualmente, nesta fase de transição, parece-nos crucial que a indústria monitorize de perto toda a evolução, permanecendo atenta a novas ideias e novas oportunidades. Paralelamente, as empresas deverão fomentar inovação na gestão e testar novos conceitos

relacionados com a eletrificação, nova mobilidade, conetividade e inteligência artificial.

“Os consumidores estão muito recetivos à economia,

reduzido impacto ambiental, prazer e facilidade

de condução de um VE”

Descreve-se também como sendo obcecado pelo consumidor... Acha que o consumidor está preparado para este – como as suas palavras bem definem – verdadeiro novo mundo da mobilidade? O Consumidor tem hoje uma experiência mais tecnológica e mais conveniente para encomendar uma pizza à distância do que para marcar um serviço de após-venda. Estamos mais preocupados com a necessidade da indústria acelerar a evolução da experiência do Cliente, do que com a capacidade deste em acompanhar essa evolução.

E baseando-se na sua vasta experiência internacional, como avalia o mercado português comparativamente aos restantes? Tendemos a dizer que “lá fora” é diferente, mas não: cada vez é mais igual! As tecnologias por trás desta disrupção são transversais aos diferentes mercados, mesmo sabendo que a velocidade de adoção dos novos conceitos não será sempre a mesma. Por exemplo, no Brasil a eletrificação avançará mais lentamente do que na China. Los Angeles precisa mais urgentemente de soluções alternativas de mobilidade do que Lisboa. Mas Portugal está na Europa e nós iremos evoluir à velocidade dos nossos vizinhos. Nalguns casos até é provável que aceleremos mais: a dimensão do nosso país e a qualidade profissional dos portugueses tornam-no um excelente destino para se realizarem pilotos de projetos inovadores, como aliás já está acontecer com algumas marcas de automóveis.

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